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Entrando na Mercearia Paraopeba, lá no cantinho à direita, tem um cesto com trouxinhas cuidadosamente amarradas feitas de palha de bananeira. Elas têm o tamanho mais ou menos de uma laranja e chamam a atenção de todo mundo. Para quem sabe do que se trata, é aquela surpresa boa e aquela viagem à infância no interior de Minas Gerais. Para quem não sabe, fica aquela pergunta: o que é que eu faço com isto?
Conta a história que, alguém há muito muito tempo observou que a gordura animal que derrete sobre a cinza da madeira usada para fazer fogo forma uma pasta com propriedades desengordurantes. Assim nasceu o sabão. Milênios se passaram, esse conhecimento se difundiu e, viajando pelo interior de Minas Gerais, ainda é possível encontrar pequenas propriedades que preservam a tradição: elas aproveitam a gordura animal que sobra para, combinado com cinzas da combustão da lenha, fazer sabão.
É fácil fazer, mas demora. O primeiro passo é preparar a dicoada, ou seja, misturar as cinzas da madeira com água. Ferve-se a gordura no tacho e vai-se acrescentando a dicoada até chegar no ponto, ou seja, até que a pasta obtida comece a produzir espuma quando colocada na esponja molhada. Isso demora cerca de dois dias, apurando devagar, acrescentando mais dicoada, apurando mais um pouco e assim vai, num exercício de paciência e tradição. O resultado final é uma pasta densa e escura, que é moldada no formato de uma bola e cuidadosamente embalada em palha seca de bananeira.
Pronto, o seu Sabão de Cinzas ou Sabão de Dicoada está na mão para ser usado no banho, como ele não leva soda cáustica, não irrita a pele e diz o conhecimento popular que ele pode ser usado para cuidar de queimaduras e tratar dermatites. Também se usa o Sabão de Cinzas para lavar roupas, louças e para limpar a casa.
Aqui em Itabirito ainda temos senhoras que seguem toda essa tradição de preparo, preservam a cultura do Sabão de Cinzas e que encontram na Mercearia Paraopeba um lugar para comercializar seus produtos e se manterem (e assim essa tradição vai se mantendo viva).
Na sua próxima visita à Mercearia Paraopeba, aproveite e leve a sua trouxinha de um sabão autenticamente artesanal, cujo principal ingrediente são os saberes de gente simples e que preserva nosso maior patrimônio: a nossa história.